Neste colóquio, farei meus devaneios econômicos centrado na indústria 4.0, abordando suas principais características e como essa nova estrutura afeta o processo, ocasionando o reordenamento das relações de trabalho.
De maneira mais ou menos intensa, todos já ouviram algo a respeito da nova revolução industrial, ou sobre a alteração do processo produtivo na atualidade. Ou já escutaram termos como a Internet das coisas, a tecnologia a serviço do homem, e integração entre a realidade e o virtual. Essa revolução no processo produtivo foi nomeada indústria do futuro, ou Indústria 4.0, e é a grande responsável pelo novo ordenamento das relações entre indústria, processo produtivo, homem e trabalho.
Sustentada pelas fábricas inteligentes, a indústria 4.0 está apoiada na tecnologia da informação e alicerçada em cinco princípios: (I) a virtualização: a transformação do hardware em software, ou seja, substituição dos equipamentos físicos por aplicativos que podem, facilmente, ser controlados de qualquer lugar; (II) a sincronicidade entre operação e informação: a produção de dados referentes à operação é feita em real time, patrocinando a capacidade de tomada de decisão instantaneamente; (III) a modularização: capacidade de produção de acordo com a demanda, ou seja, os módulos de determinada produção poderão ser facilmente associados ou não, de acordo com o produto solicitado pelo cliente; (IV) descentralização da deliberação: a tomada de decisão não necessita estar próxima da produção, assim, a qualquer momento e em qualquer espaço cyber-físico, pode-se adotar comandos em tempo real; e (V) a orientação ao serviço: sistemas baseados na variedade e complementariedade de serviços, ou seja, softwares, sensores e dispositivos possibilitando a automação do controle da produção.
Dados que brotam a todo momento na agricultura da informação mostram que este mercado, apesar de ainda ser bastante disforme no que tange à utilização da tecnologia, já se apoderou desse novo processo. De acordo com a Confederação Nacional da Industria (CNI), cerca de 75% das empresas utilizam pelo menos uma tecnologia em seus processos, e 1/3 investem em novos produtos. Por outro lado, ainda de acordo com a CNI, apenas 1,6% das indústrias trabalha no conceito mais amplo da manufatura avançada, com previsão de elevação para 21,7% até 2027. Quanto ao planejamento, 45,6% das empresas têm estudos aprovados ou projetos para implantação, mas sem execução, e 39,4% não têm nenhuma ação prevista.
Esse movimento afeta variáveis macroeconômicas, como o Produto Interno Bruto (PIB), o consumo das famílias, os investimentos das empresas, a inflação e o emprego, dentre outros. Ele patrocina a ruptura pelo lado da oferta, influenciando a produção, a comercialização e a distribuição de bens e serviços de natureza tecnológica ou não, proporcionando, assim, redução de custos e, consequentemente, maior margem de lucro por produto; e a ampliação do consumo pelo lado da demanda, com o impacto na queda dos preços – motivada pela diminuição dos custos e pela elevada quantidade produzida.
No quesito relações de trabalho e empregabilidade, percebe-se uma drástica e dramática mudança no cerne da indústria e na quantidade de postos oferecidos. A discussão, neste momento, não é se haverá ou não uma alteração relevante na correlação trabalho e automação, uma vez que isso já é fato e notório. Não há sombra de dúvida de que a substituição do trabalho repetitivo já se observa de maneira clara e em franca proliferação. As divagações estão centradas em quanto, ou melhor, no grau dessa substituição e nas suas consequências.
Todavia, pode-se concluir que, pelo menos neste quadro, haverá desemprego, queda dos salários de parte dos trabalhadores – daqueles menos qualificados – extinção de algumas profissões e até de empresas. Mas, em contrapartida, haverá criação de novos postos ou ocupações com qualificação profissional elevada, com foco na capacidade holística e na flexibilidade operacional do trabalhador. Mas isso é assunto para o próximo colóquio.
Enfim, a indústria 4.0, na qual a tecnologia impera, é uma realidade incontestável, e dela um novo formato de organização econômico-social se descortina. A disrupção do modelo pré-existente de negócio dá lugar a um novo mais ágil, eficiente, altamente produtivo e capaz de processos individualizados. Cabe lembrar que aquela indústria que proveu os lucros capitalistas por décadas está em fase terminal. Os lucros prevalecerão, e em escala cada vez maior, mas com um novo mecanismo produtivo. As relações de mercado, ou seja, a oferta e a demanda, estão também se rearranjando, assim como as relações de trabalho e as atividades profissionais. Portanto, a indústria 4.0 é um novo modelo de produção que sucumbe paradigmas milenares, ao mesmo tempo em que estabelece novos marcos nos processos produtivos, econômicos e sociais.
Fonte:
- SCHWAB, Klaus. A Quarta Revolução Industrial. Editora Ediproum – 2015
- Extraído em 19/10/2018: http://www.portaldaindustria.com.br/cni/
- Extraído em 22/10/2018: https://www.valor.com.br/brasil/5224809/so-16-da-empresas-operam-no-conceito-industria-40
- Extraído em 24/10/2018: https://www.swissinfo.ch
Extraído em 24/10/2018: https://www.voitto.com.br/blog/artigo/industria-4-0
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