Tenho escutado muito sobre como a indústria 4.0 está afetando a vida do trabalhador e como esse novo ordenamento tem levado ao fim de diversas profissões. Resolvi, então, escrever algumas considerações a respeito. Elas serão divididas em quatro etapas. Nesta primeira, farei um apanhado geral da relação entre a indústria 4.0, o trabalhador e o fim das profissões. Na segunda, abordarei os aspectos da indústria 4.0 em si. Na terceira, o mote será o trabalhador e seu novo papel no mercado profissional. Por último, será tratado o fim das profissões. Minha pretensão é que as publicações sejam semanais.
O NOVO ORDENAMENTO ECONÔMICO (INDÚSTRIA, TRABALHO E AS PROFISSÕES)
O que se observa nos últimos tempos é que o mercado está em um processo de metamorfose muito célere, como jamais visto. O hiato temporal entre a criação de um produto ou serviço, seu lançamento e sua obsolescência está cada vez mais curto. O que hoje é inovador amanhã já se tornou obsoleto. Como exemplo, o disco de vinil – o “bolachão” como era conhecido – figurou por décadas nas prateleiras. Na época, exibir a parede decorada por eles era motivo de orgulho. O CD, sepultador desse saudoso processo de reprodução, não durou nem uma década e, prontamente, foi substituído pelas mídias digitais. Atualmente, com apenas um punhado de reais, é possível ouvir uma infinidade de gêneros musicais, a qualquer hora e lugar, sem gastar nenhum espaço físico.
Nesse dinamismo exacerbado, o processo produtivo muda, o nível de conhecimento se altera, e as relações trabalhistas se reorganizam. Quebras de paradigmas são tão frequentes que o fato por si só não choca mais. Essa transformação está relacionada a uma nova configuração produtiva, patrocinada pela indústria 4.0, em que o trabalhador passa a ser um empreendedor, afetando as expectativas da nova ordem econômica.
A Indústria 4.0, como ficou conhecida, pode ser definida como a quarta revolução industrial. Enquanto as revoluções anteriores propiciaram a produção em massa e a linha de montagem, com a automação e a eletricidade como vetores impulsionadores, este novo processo tem a tecnologia como fomentador contumaz.
A produção em massa e a linha de montagem foram “mecanizadas” pela automação, ou seja, inseriram no processo robôs e alguns dos pilares tecnológicos. Não há necessidade do homem na operacionalização da rotina, seja na área da produção industrial, ou num simples e singelo escritório de contabilidade. A rotina, agora, é função da máquina. Existem diversos aplicativos que fundem duas ou mais atividades da indústria 4.0, com o objetivo de propiciar a automação do dia a dia do usuário, no que tange seu processo rotineiro.
Com esse processo de substituição do trabalho humano pela máquina em ações ou processos cotidianos, expõe-se um dilema: e agora, o que fazer? Neste momento, emerge de – e em – cada um o empreendedor que eu chamo de VOCÊ S.A., que é aquele profissional que entende qual é o seu valor e que este é o melhor produto a ser vendido. E o tempo todo!
O processo rotineiro cabe às máquinas. É fato. Coletar dados, qualquer máquina ou sistema, desenvolvido para isso, consegue. Transformar esses dados em informações, e estruturá-los de maneira organizada, também pode ser feito por meio da automação. Mas fazer com que essas informações se tornem conhecimento – e mais, tirar dele a sabedoria da proposição – isso não é possível. Pelo menos, por enquanto. Estão tentando, mas ainda não é uma realidade. Esse poder está com o ser humano, esse é o nosso valor. E isso também é fato.
Uma outra questão que merece abordagem, e se consolida juntamente com a indústria 4.0 e o empreendedorismo, são as previsões, feitas por “gurus” de plantão, de que várias profissões estão com seus dias contados. E, portanto, terão o mesmo destino dos discos de vinil. Será mesmo? Uma das pesquisas analisadas, e que servirá como referência neste momento, mostra que profissões como atendentes de telemarketing, contadores e auditores, corretores de imóveis, maquinistas, dentre outras, têm uma probabilidade elevada de extinção nos próximos dez anos.
Elegendo a profissão de atendente de telemarketing – segundo consta, ainda não regulamentada – e partindo para uma análise pontual, realmente posso concordar que o processo burocrático será automatizado – o que já acontece, afinal quem ainda não recebeu um telefonema de uma máquina? Porém, é o ser humano quem possui a expertise da proposição de possíveis soluções, ou da negociação individualizada, de que as questões de cada cliente precisam ao serem levadas em consideração de maneira específica. Portanto, aponto que a questão da extinção das profissões não procede. Todavia, o modo operacional delas, com certeza, ficará a cargo da máquina. Vale reflexão.
Enfim, o que se estabelece neste novo momento econômico é um processo cada vez mais automatizado do dia a dia, feito pela máquina. Isso é incontestável. Todo trabalhador é um empreendedor de si mesmo, é o VOCÊ S.A. Nós não iremos sair do jogo, mas teremos uma nova função muito mais desafiadora e importante. Algumas profissões poderão ser extintas, é fato, e isso é algo que sempre aconteceu ao longo dos tempos – alguém lembra da telefonista que “conectava” as ligações de longa distância? Mas outras irão surgir. Daí a apontar que algumas ou várias profissões estão com seus dias contados… sei não!
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